O 22 de Abril
Por: André Freitas
O dia 22 de abril de 1945 amanheceu nublado e cinzento. Os 22 pilotos brasileiros em condições de vôo haviam chegado cedo ao aeródromo de Pisa, mas o teto excessivamente baixo havia cancelado a patrulha da madrugada. Do outro lado dos Apenino, os exércitos do marechal Albert Kesseiring fugiam desesperados para o norte, procurando um local seguro para se reagrupar e tentar impedir os avanços dos tanques aliados que rapidamente rolavam pelo vale do rio Pó. O que começara como uma ordeira retirada se havia transformado numa debandada geral, com os pilotos aliados caindo-lhes em cima. O soldado alemão era bravo e capaz. Todo cuidado era pouco. As oportunidades precisavam ser aproveitadas para evitar que o inimigo pudesse levantar-se mais uma vez.
Foi neste cenário que decolou a primeira esquadrilha do Grupo de Caça, às 8:30h da fria manhã do dia 22. Com o ronco dos motores enchendo o silêncio da pista, os pesados Thunderbolts se alçaram ao céu. Cinco minutos mais tarde decolavam mais quatro aviões carregados com bombas e foguetes. Mais cinco minutos, e mais quatro aviões. Durante todo o dia os pilotos e mecânicos da FAB trabalharam sem cessar. Mal as esquadrilhas retornavam, rapidamente os aparelhos eram reparados e armados para voltares ao combate. Os pilotos procuravam relaxar das tensões, mas já estavam com a cabeça no próximo voo. Nunca a Força Aérea Brasileira havia realizado tamanho número de missões em tão pouco tempo.
“No dia 22 de abril eu estava puxando a esquadrilha. Tínhamos realizado o bombardeio e voltávamos à procura de alvos” lembra o Tenente Meira. “Já estávamos nos preparando para voltar para a base, pois não havíamos achado nada, quando de repente a voz do Tenente Tormin encheu o silêncio que até então imperava no rádio: “ihh, estou vendo inimigo aqui, cruzando o rio. Está cheio de alemães aqui embaixo!” Voamos para lá e, realmente, tinha tanta gente, tanto carro, que você entrava rasante e apertava o gatilho ao mesmo tempo em que pressionava alternadamente os pedais para derrapar para a esquerda e a direita, espalhando tiros para todos os lados!”
No final do dia, mais de 100 veículos, 3 pontes, 14 casas ocupadas por tropas inimigas, 3 posições de artilharia antiaérea, uma estação de estrada de ferro, 6 balsas e inúmeros outros alvos inimigos foram atingidos. Com as condições do tempo deteriorando rapidamente, as missões começaram a ser suspensas e os aviões eram rapidamente reparados para as ações do dia seguinte. Poucos foram os aviões que não voltaram para casa sem trazerem buracos de tiros inimigos. Quando as exaustas equipes de pilotos e mecânicos finalmente puderam voltar para o alojamento, sabiam que haviam realizado um dia como poucos. Onze missões foram voadas, com 44 saídas de aviões. Por causa da fúria do ataque dos Thunderbolts brasileiros, as forças aliadas puderam rapidamente estabelecer uma cabeça-de-ponte no rio Pó e avançar para o outro lado sem sofrer os pesados ataques das tropas que os alemães tencionavam concentrar naquela zona. O dia 22 de abril de 1945 entraria desde então para a história da Força Aérea Brasileira como o dia da Aviação de Caça. O dia em que 22 pilotos brasileiros e suas equipes de terra se superaram para atacar o inimigo com força total!
Trecho do livro “A Caça Brasileira – Nascida em Combate”, autor Carlos Lorch. Action Editora.